Raposa (MA), local de partida para as Fronhas Maranhenses (23/08/2019) |
Existem dois tipos de turistas. Ambos viajam para espairecer, ficar distante da rotina, mas há um grupo que aproveita o tempo longe de casa para curtições a mil (paqueras, farras, diversão sem fim) e existem os que usam esse momento para conhecer bem os lugares de destino, a cultura, aproveitar o dia nas praias e nas atrações turísticas. Em quase dez anos de viagens anuais em minhas férias ou em ocasiões que as possibilitam (como feriadões, por exemplo), posso me considerar com maior tendência ao segundo grupo.
Em minha última viagem, que teve como destinos Maranhão e Piauí, observei o comportamento de alguns turistas que me motivaram a escrever esse post. No dia em que fui à Lagoa Azul, pela manhã, nos Lençóis Maranhenses, alguns dos visitantes não deram atenção ao tempo dado pelo guia para aproveitarmos o local (40 minutos), e o resultado disso foi uma demora de quase uma hora até todos retornarem à jardineira para o retorno a Barreirinhas. Fomos deixados em um restaurante onde mais tarde outros guias pegariam os grupos para a segunda parte do passeio à tarde para a Lagoa Bonita (no qual fui esquecido mas ressarcido, como contei no outro post). Ali outro fato que observei: no momento em que um dos guias apareceu para apanhar duas mulheres elas estavam bebendo cerveja após o almoço, e ele teve que esperar elas terminarem, pagarem a conta, usarem o banheiro e finalmente saírem, ignorando a impaciência dos demais turistas que aguardavam no veículo.
Foi essa falta de bom senso que me deu o alerta: às vezes os passeios acabam se tornando estressantes por causa do comportamento de muitos turistas. Nesses anos todos que viajo, sempre evitei esses grupos exatamente por esse problema. Uma vez ou outra participei e fui tomado pela raiva e impaciência por pessoas que não tem senso de responsabilidade, atrasando a programação e até diminuindo o tempo dos passeios. As agências tentam prezar pelo cumprimento dos horários para que todos possam ser beneficiados, mas há turistas que não colaboram e ainda querem ter razão, como se fossem os únicos a participarem do passeio. Existem os passeios privativos, claro, mais caros, mas quem não quer gastar muito (mesmo que possa) acaba tornando a diversão alheia um aborrecimento.
Como viajei pela primeira vez sozinho, tive que me submeter a isso. Em Barreirinhas não há como ir a esses passeios por conta própria: ou se vai em grupos ou se contrata um privativo. Aí temos que aturar comportamentos inadequados e inconvenientes.
Acho que a partir daí dá para traçar umas dicas de como não ser um turista "pé no saco" para quem os demais olham com raiva, e também de como se pode aproveitar ao máximo a viagem de férias.
Acordar cedo: é a melhor dica para quem quer aproveitar ao máximo o dia para conhecer o destino e seus atrativos. Há mais tempo para se divertir nas praias, nos lugares históricos, nos city tours. Dizer que isso não é aproveitar bem é balela: nunca entendi porque dormir até quase meio dia pode ser curtir férias; se for por isso, melhor não viajar e ficar em casa.
Pontualidade: o viajante precisa entender que, ao contratar pacotes de passeio em grupos, não é o único a participar e nem tudo será organizado apenas em sua função. Se a agência marcar 7h30 para apanhá-lo no hotel, esteja pronto às 7h20 no máximo, já tendo tomado café e com as coisas prontas. Alegar que todo mundo atrasa faz parte de uma mentalidade arrogante. Você faz sua parte. Caso contrário, contrate um passeio privativo, este sim feito em sua função mas com valor às vezes até 50% maior.
Comportamento: a pior coisa que observei foi turista jogar lixo nos lugares visitados. São embalagens de salgados, latas ou garrafas de bebidas, guimbas de cigarro. Basta levar uma sacola para recolher essas coisas e depois colocar no seu devido lugar. Nas barracas de praia, observe as pessoas nas proximidades para ver se fumam e não incomodar. Peça ao atendente um copo com água ou mesmo areia para jogar as cinzas e as guimbas, em vez de jogar na areia. Depois eles recolhem e mandam para o lixo. Faça sua parte.
Regras: há lugares onde há regras estabelecidas e que muitas vezes são desrespeitadas, como em museus, onde não é permitido fotografar ou filmar no interior, nem mesmo tocar nas peças em exposição. Há quem faça isso escondido do guia, agindo com egoísmo e falta de respeito. Deixar a marca em lugares, riscando paredes ou peças arqueológicas (no caso de lugares como Sete Cidades e Vila Velha, por exemplo), é de uma imbecilidade tremenda (não há outro termo para isso).
Atitudes: os guias são trabalhadores como todos nós, e não babás ou empregados. Já vi gente destratar guia por conta da chamada de atenção sobre o horário marcado para retorno dos passeios. Também ouvi, no passeio para Atins, uma mulher se queixar de que o restaurante não tinha o conforto que esperava: um restaurante simples, de comida caseira, e a pessoa agindo como se estivesse em um estabelecimento de elite. Bastava se informar antes e não participar do passeio.
Conversas: sou meio que um bicho do mato, difícil de me socializar, mas dependendo da pessoa essa relação flui bem. Entretanto, em minha última viagem, mais de uma vez houve companheiro de passeio que, ao saber que sou amazonense, veio questionar com ar de deboche se as notícias das queimadas intensas na Amazônia eram verdade ou se havia muito estardalhaço sobre o assunto. Como não queria entrar em discussão e me aborrecer, limitei-me a responder "sempre tem um filho da puta botando fogo em tudo por lá". Foi o que matou a conversa na fonte.
Respeito: já compartilhei várias vezes no grupo Viajantes, criado por mim no Facebook, artigos sobre o comportamento de turistas em memoriais, como os sem noção que tiram fotos divertidas ou fazendo piruetas no museu de Auschwitz. O mesmo vale para museus sobre a escravidão ou outros fatos históricos negativos. Memoriais e museus com esse tema são lugares de reflexão e respeito, não uma ida a um parque de diversões. Para isso, há a Disneylândia, o Beach Park, o Beto Carrero World e outros com a finalidade de divertir. Memoriais e museus são elementos importantes para o nosso conhecimento.
Riscos: há turistas que acham que podem fazer qualquer coisa, a despeito das recomendações dos guias. Não ir a determinados trechos de praias ou lagos por conta dos perigos, não se aproximar muito das beiradas em lugares altos (como as do Corcovado, por exemplo). Caso aconteça algum acidente, é provável que queiram culpar a agência, já que não admitem a própria irresponsabilidade.
É isso. Se você leu até aqui e pensou "ora, mas se você reclama, não vá", eu lamento dizer: você é um tremendo de um turista babaca.